Futuro para a <em>Alcoa</em>
As trabalhadoras da ex-Indelma, no Casal do Marco, decidiram realizar uma manifestação junto à fábrica, apelando à participação solidária da população do concelho do Seixal e do distrito de Setúbal. A multinacional norte-americana quer mandar funcionários para o desemprego, transferindo trabalho da Alcoa Fujikura portuguesa para outros países.
A fábrica tem trabalho e condições ímpares para o realizar
A decisão de avançar para uma iniciativa com larga expressão foi tomada durante o plenário que se realizou na quinta-feira, 31 de Março. Os trabalhadores – mulheres, na sua grande maioria, como é habitual no sector de fabricação de material eléctrico – pararam o trabalho a seguir ao almoço, concentrando-se de seguida junto aos portões da fábrica.
A preocupação é compreensível, porque a administração já abriu um processo de redução de pessoal, por meio de rescisões «por mútuo acordo», sem definir qualquer limite para esse corte. Além do que possa recear quem se veja compelido a aceitar a rescisão – pois perderá o emprego, num distrito que tem já uma taxa de desemprego superior à nacional –, os que ficarem de fora desta redução sabem que, indo a multinacional por este caminho, acabará por liquidar a própria empresa.
Na moção aprovada no plenário de quinta-feira, os trabalhadores e o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas afirmam que «a situação de instabilidade e incerteza quanto ao futuro, que hoje se vive na Alcoa, resulta exclusivamente do desvio de clientes e produtos» da fábrica portuguesa para outras unidades da multinacional. Duas semanas antes, também em plenário, fora aprovada outra moção, repudiando «as sucessivas e injustificadas transferências de produção para outros países».
A luta em defesa dos postos de trabalho e em protesto contra a deslocalização da produção para a República Checa, passou antes por paralisações em 18, 21 e 22 de Fevereiro e 17 de Março. Na circular de 11 de Março, em que formalizou o início do processo de rescisões, a Alcoa justifica a medida com o plano decrescente de encomendas para os monovolumes produzidos na Autoeuropa. Mas não diz que a multinacional ganhou o fornecimento da cablagem eléctrica para o novo veículo, o VW Golf Cabrio.
«Foi com base na inteligência dos trabalhadores portugueses, na fiabilidade da sua produção, na flexibilidade dos fornecimentos e na proximidade com a Autoeuropa, que a administração elaborou as cotações que lhe permitiram ganhar o concurso», salienta-se na moção de dia 31.
Por outro lado, a multinacional tem que responder pelos benefícios, superiores a 10 milhões de euros (um milhão de contos) que o Estado português concedeu à Indelma (designação da unidade industrial do Casal do Marco, até ser adquirida pela Alcoa ao grupo Siemens, há cerca de três anos) para criar emprego e para se modernizar.
Os trabalhadores e o SIESI exigem que o Governo dê início, «imediatamente», a negociações com a administração da Alcoa, envolvendo o sindicato, de modo a criar condições para que o trabalho se mantenha na fábrica portuguesa e que sejam mantidos os mais de mil postos de trabalho actuais.
No final do plenário, as operárias deslocaram-se em manifestação até à Estrada Nacional 10, onde cortaram simbolicamente o trânsito, por alguns minutos, gritando «A luta continua, não queremos ir prá rua».
Como na Sorefame...
Em defesa do emprego e do aparelho produtivo nacional, como na Alcoa, «é uma luta de muitos trabalhadores em Portugal, digna do respeito de todos», sublinhou Florival Lança, da Comissão Executiva da CGTP-IN. Ao falar às trabalhadoras, concentradas junto aos portões da fábrica, referiu que «sou um trabalhador da Bombardier», empresa que é alvo de uma ofensiva há longos anos mas onde «ainda hoje se equaciona a possibilidade de continuar a produzir material circulante», graças à luta desenvolvida pelo pessoal da ex-Sorefame.
Também na Opel da Azambuja, os operários «recusaram a chantagem da multinacional» e não cederam à perda de direitos e salários. «Quem cedeu e perdeu foram os trabalhadores da fábrica da Inglaterra, que acabaram por ver a Opel ir para a República Checa», salientou aquele dirigente.
Sempre solidários
«Temos acompanhado a vossa luta e não vamos deixar de ser uma voz activa», declarou Bruno Dias, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, considerando que este é «um exemplo» de combatividade. «A unidade N.º 1 do grupo não pode ser premiada com deslocalização, não se pode castigar quem no mundo trabalha melhor», afirmou, reclamando que José Sócrates inclua nas suas contas de criação de 150 mil postos de trabalho os milhares de empregos ameaçados de destruição, na Alcoa e noutras empresas do nosso país.
Alfredo Monteiro, presidente da Câmara Municipal do Seixal, sublinhou que «esta é uma luta nossa», que tem tido a solidariedade activa da autarquia. O eleito comunista evocou a visita do Presidente da República, «não há muitos anos», que foi uma forma de destacar a qualidade da empresa, do trabalho e dos trabalhadores. Protestou por, «mais uma vez», o distrito e o concelho serem penalizados com uma intenção de redução de centenas de postos de trabalho, realçando que, «se antes não se tivesse lutado, esta fábrica já teria certamente encerrado».
Há trabalho
A administração da Alcoa Fujikura (Portugal) nega que a redução de emprego se deva à deslocalização de produção para o estrangeiro. O administrador António Jacinto, citado pela Agência Lusa, diz que o fornecimento de cabos eléctricos para o novo modelo de automóvel (Cabrio), a lançar este ano pela Volkswagen, foi adjudicado à fábrica da Alcoa na Roménia, embora o arranque da produção esteja a ser feito na República Checa.
«É mentira», comentou anteontem Manuel Correia. Em declarações ao Avante!, o dirigente do SIESI/CGTP-IN reafirmou que o fornecimento das cablagens para o modelo de luxo que a Volkswagen vai começar a produzir na Autoeuropa foi ganho, em concurso, pela Alcoa internacional. A proposta vencedora foi elaborada com base nos preços, na localização e na qualidade da fábrica portuguesa, a única unidade do grupo Alcoa que fornece o complexo automóvel de Palmela. Levar o trabalho para outra unidade, nestas condições, «é uma ofensa à dignidade dos portugueses», protesta o sindicalista.
Quanto aos trabalhos (cablagens acessórias) que tentaram retirar do Casal do Marco para outras unidades da multinacional, recordou ainda Manuel Correia que «tinham que passar pela Alcoa portuguesa», que os preparava para serem entregues em condições na Autoeuropa. «Após meia-dúzia de tentativas, deixaram-se disso», refere o dirigente, recordando que, «para os despedimentos que fizeram em 2003, alegaram que não se sabia se a Alcoa ganhava o novo modelo da Volkswagen». Mas o concurso está ganho e garante trabalho por vários anos.
A preocupação é compreensível, porque a administração já abriu um processo de redução de pessoal, por meio de rescisões «por mútuo acordo», sem definir qualquer limite para esse corte. Além do que possa recear quem se veja compelido a aceitar a rescisão – pois perderá o emprego, num distrito que tem já uma taxa de desemprego superior à nacional –, os que ficarem de fora desta redução sabem que, indo a multinacional por este caminho, acabará por liquidar a própria empresa.
Na moção aprovada no plenário de quinta-feira, os trabalhadores e o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas afirmam que «a situação de instabilidade e incerteza quanto ao futuro, que hoje se vive na Alcoa, resulta exclusivamente do desvio de clientes e produtos» da fábrica portuguesa para outras unidades da multinacional. Duas semanas antes, também em plenário, fora aprovada outra moção, repudiando «as sucessivas e injustificadas transferências de produção para outros países».
A luta em defesa dos postos de trabalho e em protesto contra a deslocalização da produção para a República Checa, passou antes por paralisações em 18, 21 e 22 de Fevereiro e 17 de Março. Na circular de 11 de Março, em que formalizou o início do processo de rescisões, a Alcoa justifica a medida com o plano decrescente de encomendas para os monovolumes produzidos na Autoeuropa. Mas não diz que a multinacional ganhou o fornecimento da cablagem eléctrica para o novo veículo, o VW Golf Cabrio.
«Foi com base na inteligência dos trabalhadores portugueses, na fiabilidade da sua produção, na flexibilidade dos fornecimentos e na proximidade com a Autoeuropa, que a administração elaborou as cotações que lhe permitiram ganhar o concurso», salienta-se na moção de dia 31.
Por outro lado, a multinacional tem que responder pelos benefícios, superiores a 10 milhões de euros (um milhão de contos) que o Estado português concedeu à Indelma (designação da unidade industrial do Casal do Marco, até ser adquirida pela Alcoa ao grupo Siemens, há cerca de três anos) para criar emprego e para se modernizar.
Os trabalhadores e o SIESI exigem que o Governo dê início, «imediatamente», a negociações com a administração da Alcoa, envolvendo o sindicato, de modo a criar condições para que o trabalho se mantenha na fábrica portuguesa e que sejam mantidos os mais de mil postos de trabalho actuais.
No final do plenário, as operárias deslocaram-se em manifestação até à Estrada Nacional 10, onde cortaram simbolicamente o trânsito, por alguns minutos, gritando «A luta continua, não queremos ir prá rua».
Como na Sorefame...
Em defesa do emprego e do aparelho produtivo nacional, como na Alcoa, «é uma luta de muitos trabalhadores em Portugal, digna do respeito de todos», sublinhou Florival Lança, da Comissão Executiva da CGTP-IN. Ao falar às trabalhadoras, concentradas junto aos portões da fábrica, referiu que «sou um trabalhador da Bombardier», empresa que é alvo de uma ofensiva há longos anos mas onde «ainda hoje se equaciona a possibilidade de continuar a produzir material circulante», graças à luta desenvolvida pelo pessoal da ex-Sorefame.
Também na Opel da Azambuja, os operários «recusaram a chantagem da multinacional» e não cederam à perda de direitos e salários. «Quem cedeu e perdeu foram os trabalhadores da fábrica da Inglaterra, que acabaram por ver a Opel ir para a República Checa», salientou aquele dirigente.
Sempre solidários
«Temos acompanhado a vossa luta e não vamos deixar de ser uma voz activa», declarou Bruno Dias, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, considerando que este é «um exemplo» de combatividade. «A unidade N.º 1 do grupo não pode ser premiada com deslocalização, não se pode castigar quem no mundo trabalha melhor», afirmou, reclamando que José Sócrates inclua nas suas contas de criação de 150 mil postos de trabalho os milhares de empregos ameaçados de destruição, na Alcoa e noutras empresas do nosso país.
Alfredo Monteiro, presidente da Câmara Municipal do Seixal, sublinhou que «esta é uma luta nossa», que tem tido a solidariedade activa da autarquia. O eleito comunista evocou a visita do Presidente da República, «não há muitos anos», que foi uma forma de destacar a qualidade da empresa, do trabalho e dos trabalhadores. Protestou por, «mais uma vez», o distrito e o concelho serem penalizados com uma intenção de redução de centenas de postos de trabalho, realçando que, «se antes não se tivesse lutado, esta fábrica já teria certamente encerrado».
Há trabalho
A administração da Alcoa Fujikura (Portugal) nega que a redução de emprego se deva à deslocalização de produção para o estrangeiro. O administrador António Jacinto, citado pela Agência Lusa, diz que o fornecimento de cabos eléctricos para o novo modelo de automóvel (Cabrio), a lançar este ano pela Volkswagen, foi adjudicado à fábrica da Alcoa na Roménia, embora o arranque da produção esteja a ser feito na República Checa.
«É mentira», comentou anteontem Manuel Correia. Em declarações ao Avante!, o dirigente do SIESI/CGTP-IN reafirmou que o fornecimento das cablagens para o modelo de luxo que a Volkswagen vai começar a produzir na Autoeuropa foi ganho, em concurso, pela Alcoa internacional. A proposta vencedora foi elaborada com base nos preços, na localização e na qualidade da fábrica portuguesa, a única unidade do grupo Alcoa que fornece o complexo automóvel de Palmela. Levar o trabalho para outra unidade, nestas condições, «é uma ofensa à dignidade dos portugueses», protesta o sindicalista.
Quanto aos trabalhos (cablagens acessórias) que tentaram retirar do Casal do Marco para outras unidades da multinacional, recordou ainda Manuel Correia que «tinham que passar pela Alcoa portuguesa», que os preparava para serem entregues em condições na Autoeuropa. «Após meia-dúzia de tentativas, deixaram-se disso», refere o dirigente, recordando que, «para os despedimentos que fizeram em 2003, alegaram que não se sabia se a Alcoa ganhava o novo modelo da Volkswagen». Mas o concurso está ganho e garante trabalho por vários anos.